História do Tempo
O homem branco que é o senhor, dono, proprietário dos cinco outros homens , negros e mulatos, está à frente , na posição de autoridade e domínio. Os outros se encontram atrás. O primeiro à esquerda do Senhor é mulato, está bem vestido. Ao contrário dos outros, deixou o cabelo meio liso crescer, penteou-o, fez uma risca no lado esquerdo, como o do seu Senhor.
Mas, não pode usar sapatos, privilégio e marca distinta dos livres e libertos. Tirar fotografia era uma operação demorada. Ninguém podia se mexer durante quase dois minutos. Outras tentativas já podiam ter falhado. O fotógrafo Militão, que fez essa foto em São Paulo, deve ter reclamado.
Por isso ou por outras razões mais secretas, o Senhor está zangado, de cara amarrada. O escravo situado à sua direita, assustado, encolheu-se. Na extrema esquerda, o homem com a varinha na mão – pastor de cabras ou de vaca leiteira na cidade – tem um olhar altivo, talvez por que traga nas mãos o objeto de seu ofício, que o distingue dos outros cativos, paus pra toda obra. Na extrema direita, o homem de branco se mexeu: estragou a foto da ordem escravista programada pelo seu Senhor. Vai apanhar. No seu rosto fora de foco vislumbra-se o medo. Vai apanhar.
(Foto de Militão Augusto de Azevedo, São Paulo, 1870. Texto: Luiz Felipe Alencastro – SP)
Texto retirado do zine Um Grito Pela Paz, Nº 29, Dezembro de 2009.
Por isso ou por outras razões mais secretas, o Senhor está zangado, de cara amarrada. O escravo situado à sua direita, assustado, encolheu-se. Na extrema esquerda, o homem com a varinha na mão – pastor de cabras ou de vaca leiteira na cidade – tem um olhar altivo, talvez por que traga nas mãos o objeto de seu ofício, que o distingue dos outros cativos, paus pra toda obra. Na extrema direita, o homem de branco se mexeu: estragou a foto da ordem escravista programada pelo seu Senhor. Vai apanhar. No seu rosto fora de foco vislumbra-se o medo. Vai apanhar.
(Foto de Militão Augusto de Azevedo, São Paulo, 1870. Texto: Luiz Felipe Alencastro – SP)
Texto retirado do zine Um Grito Pela Paz, Nº 29, Dezembro de 2009.

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