sábado, 23 de outubro de 2010

Idosos desrespeitados

IDOSO É SUCATA PARA PLANOS DE SAÚDE JAMES PIZARRO* www.professorpizarro.blogspot.com Que os planos de saúde colocam mil obstáculos para fazer contratos com idosos, eu estava cansado de saber. Que eles priorizam contratação de planos com jovens, isso também era sabido. Que cobram mensalidades escorchantes dos idosos e com período de carência estapafúrdios, também é realidade. Mas uma coisa beira a criminalidade : quando um idoso tem condições e aceita as exigências da "empresa", paga religiosamente em dia, cumpre o período de carência, mesmo assim quando surge a necessidade de uma cirurgia, por exemplo, eles postergam a realização da mesma até que uma reunião de médicos decida pela autorização do procedimento. Os corretores que vendem os planos de saúde têm ordem expressa de evitar a venda de planos para idosos, o que causa aos mesmos uma situação constrangedora. Mesmo assim, muitos efetuavam estes contratos. Os vendedores normalmente ganham de remuneração a primeira mensalidade do contrato que fazem. Agora, para desestimular a venda do plano para idosos, a maioria das empresas tomou a providência nojenta de não pagar nenhuma taxa para o corretor quando o contratante é idoso. Que país é este que - mesmo na iniciativa privada e com altos custos para um idoso - trata seus velhos como sucata humana ? Um idoso agora é tratado como uma laranja que não tem mais suco, que virou bagaço ? Virou uma caneta esferográfica que perdeu a carga ? Uma lâmpada fluorescente que não brilha mais e começa a tremelicar ? Depois de dar uma vida inteira em prol da construção do país, de educar e formar filhos, de lutar pelo patrimônio da família... ele é tratado assim ? Onde estão os clubes da terceira idade que não vão para as ruas e paralisam o trânsito, berrando com a voz tremida e arfante, pelos seus direitos ? Onde estão os políticos asquerosos que só pensam em aumentar seus salários e não têm a mínima piedade para com esses homens e mulheres de cabelos brancos que merecem um final de vida digno ? Onde estão os jovens estudantes universitários, as lindas meninas das praias, a meninada que se entope de álcool e drogas nas baladas ? Pensam que não vão envelhecer ? Onde está este nosso povo de vocação galinácea, que toma no rabo e sai cantando, pedindo desculpas ainda por ter ficado de costas ? Onde estão todos ? Escondidos atrás de seu comodismo ? Protegidos em seus carros blindados ? Escondidos em seus apartamentos de cobertura ? Vivendo uma vida de faz-de-conta que é vida ? Onde estão vocês, seus merdas ? Autorizo publicar em jornais/revistas/blogs e ler em rádios, bem como repassar, desde que dado o crédito ao autor. JAMES PIZARRO. *JAMES PIZARRO é agrônomo, ecologista, radialista

Harvard X Stanford

HARVARD X STANFORD Malcolm Forbes conta que uma senhora, usando um vestido de algodão já desbotado, e seu marido trajando um velho terno feito à mão, desceram do trem em Boston, EUA, e se dirigiram timidamente ao escritório do presidente da Universidade Harvard. Eles vinham de Palo Alto, Califórnia e não haviam marcado entrevista. A secretária, num relance, achou que aqueles dois com aparência de caipiras do interior, nada tinham a fazer em Harvard. – Queremos falar com o presidente – disse o homem em voz baixa. – Ele vai estar ocupado o dia todo – respondeu rispidamente a secretária. – Nós vamos esperar. A secretária os ignorou por horas a fio, esperando que o casal finalmente desistisse e fosse embora. Mas eles ficaram ali, e a secretária, um tanto frustrada, decidiu incomodar o presidente, embora detestasse fazer isso. – Se o senhor falar com eles apenas por alguns minutos, talvez resolvam ir embora – disse ela. O presidente suspirou com irritação, mas concordou. Alguém da sua importância não tinha tempo para atender gente desse tipo, mas ele detestava vestidos desbotados e ternos puídos em seu escritório. Com o rosto fechado, ele foi até o casal. – Tivemos um filho que estudou em Harvard durante um ano – disse a mulher. Ele amava Harvard e foi muito feliz aqui, mas, um ano atrás ele morreu num acidente e gostaríamos de erigir um monumento em honra a ele em algum lugar do campus. – Minha senhora – disse rudemente o presidente – não podemos erigir uma estátua para cada pessoa que estudou em Harvard e morreu, se o fizéssemos, este lugar pareceria um cemitério. – Oh, não – respondeu rapidamente a senhora. Não queremos erigir uma estátua. Gostaríamos de doar um edifício à Harvard. O presidente olhou para o vestido desbotado da mulher e para o velho terno do marido, e exclamou: – Um edifício! Os senhores têm sequer uma pálida ideia de quanto custa um edifício? Temos mais de sete milhões e meio de dólares em prédios aqui em Harvard. A senhora ficou em silêncio por um momento, e então disse ao marido: – Se é só isso que custa para fundar uma universidade, por que não termos a nossa própria? O marido concordou. O casal Leland Stanford levantou-se e saiu, deixando o presidente confuso. Viajando de volta para Palo Alto, na Califórnia, eles estabeleceram ali a Universidade Stanford, em homenagem a seu filho, ex-aluno da Harvard. "A única instituição que se confunde com o Homem, é seu caráter! Por isso não generalize, nem emita pareceres e conceitos precipitados sem conhecer toda a verdade."

O cravo não brigou com a rosa

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada". Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro? É Villa Lobos, cacete! Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar. Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz. Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens. Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho. Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma. Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha. Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil. O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach. Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade". Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto. -- --